O espelho mágico

– Pai, você viu que toda vez que ela olha no espelho ela dança? – falou o garoto.

É porque lá em casa tem um espelho no corredor que fica na altura certa para as meninas se olharem. E quando a menina se pinta e se empeteca ela olha no espelho. Então ela vê que ela é linda e que o batom é vermelho, e que a tiara amarela tem um laço que combina com a calça azul.

Daí a menina não aguenta, abre os braços, dá um giro, faz um passo de ballet e dá um pulinho. Depois ela põe a mão na cintura, faz um charme, e joga um beijo.

Antes de sair ela arruma o cabelo, joga ele para trás, olha mais uma vez no espelho e sai cantarolando uma musiquinha que faz ela dançar pelo caminho.

Lá em casa, eu tenho um espelho mágico, que faz a menina dançar.

Andar de bicicleta

Enquanto a gente cresce, muitas coisas legais acontecem. Às vezes, acontecem coisas tristes também. Quando a gente está correndo, tropeça e machuca, é ruim porque dói. Quando uma outra criança, que devia ser nossa amiga, insiste em querer ser nossa inimiga, dói também, mas aí dói no coração e parece que é dor que dói mais que dor de tombo.

Mas por outro lado, tem coisa que é tão boa, mas tão boa, que nunca mais vai ser boa daquele tanto. Quer saber um exemplo? Andar de bicicleta.

Em um dia, você acha que a bicicleta é um monstro, um bicho bravo que não deixa você sentar em cima.

No outro dia, a bicicleta já é bicho mais manso. Ela anda com você quando vai reto, mas ainda fica brava para fazer a curva.

Daí, no terceiro dia, a bicicleta vira bicho amigo, que passeia com a gente daquele jeito gostoso, que faz a gente pensar que está voando. De vez em quando, você cai dela e aí voa de verdade, mas isso já é outra história.

Você sabia que depois que você aprende a andar de bicicleta, você nunca mais esquece? Mesmo se você nunca mais andar, e só voltar depois que for velhinho, você ainda vai saber como é. Por isso que é uma coisa boa, tão boa, porque só acontece uma vez.

Quer saber outra coisa muito boa? Ensinar filho a andar de bicicleta. Um dia você vai ver e vai ser tão bom, melhor do que no dia que você aprendeu.

Olha a lama!

– Menino, você não pode pegar a bicicleta do seu irmão para ir no cross da sessenta – falou a mãe do menino.

O cross da sessenta era uma pista de terra que o menino gostava de ir com os amigos para saltar as rampas e fazer as curvas a toda velocidade com a bicicleta. Só que o menino não tinha bicicleta, quem tinha era seu irmão. Mas sempre que podia, o menino pegava a bicicleta do irmão e voava para o cross da sessenta.

Naquele dia, o menino falou para os seus amigos:

– Gente, hoje não vai dar para ir, porque minha mãe disse que eu posso andar de bicicleta, mas não posso ir lá na sessenta porque é longe e perigoso.

Um amigo seu disse:

– Deixa disso, menino. A gente vai e volta rapidinho e ninguém vai ficar sabendo.

E o menino pensou que era verdade. O plano era perfeito e lá foi ele, com seus amigos, para o cross da sessenta.

Quando ele chegou lá, a chuva do dia anterior tinha feito a pista de terra virar uma grande piscina de lama, mas o menino achou aqui melhor ainda, ele ia passar com a bicicleta no meio da lama, saltar a rampa e fazer a curva.

Ele fez isso uma vez, e foi muito legal. Daí ele fez de novo, mais rápido, sentindo o vento no rosto quando deu o salto e a emoção de passar no meio da lama igual a um corredor de verdade. Foi mais legal ainda.

E então ele fez a terceira vez, ainda mais rápido. Acelerou na saída, deu um salto bem grande e aterrisou do outro lado da rampa. Só que na hora de passar pela lama ele bateu em alguma coisa e perdeu o controle. A bicicleta virou de lado, o menino saiu voando de cabeça para baixo, pronto para aterrisar de costa no meio da lama. Enquanto voava, ele ficava pensando que agora não ia dar mais para esconder toda aquela história da mãe dele.

O resto da história você imagina.

Joana mandona

Joana é uma menina muito mandona. Às vezes, suas amigas falam:

– Ah, Joana, você é muito mandona.

Mas Joana coloca uma mão na cintura, aponta o dedo com a outra e logo responde:

– Não sou não. Parem de falar isso agora!

Quando Joana brinca de boneca, as bonecas ficam todas bem quietinhas, porque senão ela logo fala que uma está conversando muito e que a outra está teimando.

Todo mundo pensa que uma pessoa mandona é uma pessoa chata, que não deixa ninguém brincar, fica inventando regra e sendo brava. Mas se essas pessoas conhecessem a Joana, elas iam saber que  tem um jeito bom de ser mandona. É o jeito de quem organiza tudo e resolve o problema de todo mundo. Que dá banho na irmã menor e que ajuda a colega na hora que ela não sabe o que fazer.

Mas olha, vou parar de escrever porque a Joana chegou aqui e mandou eu ir ali ver uma coisa.

Medo do escuro

Menina, fica com medo não

medo de escuridão

nem medo de bicho-papão

porque medo é bobagem

e o que não falta é coragem

pra quem tem Jesus no coração

Travessão

Às vezes, quando Maria ia ler um texto, ela ficava confusa com o jeito que as palavras estavam no papel. Tinha vários símbolos que ela ainda não havia aprendido na escola e algumas palavras difíceis. Mas o que ela achava mais estranho é que algumas frases começavam com um risquinho.

– Pai, o que é o risquinho?
– Que risquinho?
– O risquinho que tem no começo de algumas frases no texto.
– Ah! Ele se chama travessão.
– Travessão? – ela perguntou, espantada.
– Isso mesmo.
– Mas que nome mais engraçado, parece nome de bicho grande.
– Mas não é, o travessão…
– hahaha – Maria riu.
– Do que você está rindo?
– Parece que você ia contar uma história, tipo assim: o Travessão foi no rio beber água, quando viu o elefante.
– hahaha – riu o pai – não era isso, filha. Eu ia te explicar o que é o travessão.
– Eu já sei o que é o travessão, ele é um bicho grande.
– Não, filha. Para de brincar, deixa eu falar sério.
– Então fala.
– O travessão fica no começo da frase para dizer que é alguém falando.
– Ah! Então, quando alguém escreve o que uma pessoa falou, começa a frase com travessão?
– Isso.
– E travessão não é um bicho grande?
– Não!
– Ô pai?
– Diga filha.
– Você diz que eu sou muito faladeira, né?
– Isso.
– Então eu sou uma pessoa muito cheia de travessão.
– hahaha. Isso mesmo filha.

Daí Maria deu um grito de brincadeira e falou:
– Corre, que lá vem um montão de bicho grande chamado travessão –  e saiu correndo.